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Se Maria tivesse outros filhos, Jesus não a teria deixado aos cuidados de São João |
Por Silvério Filho
Já tivemos a oportunidade de escrever, em outro artigo, sobre o fato de Maria não ter tido outros filhos. Na ocasião, explicamos o real significado do termo "irmãos", constante nas Escrituras. Para conferir,
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Contudo, outro argumento é utilizado por cristãos não-católicos para supostamente provar que Jesus teve irmãos de carne: o fato de Jesus ser retratado como o primogênito de Nossa Senhora (Lc 2,7 e 2,22-23). Argumentam que se Jesus é o primogênito é porque foi o primeiro; se foi o primeiro, é porque existiram outros filhos.
Mas não é bem assim. Embora não existissem outras nações tidas como filhas de Deus, a Bíblia se refere a Israel como filho primogênito, utilizando o termo como sinônimo de unigênito (Ex 4,22-23). Ainda que argumentassem que Israel não era o único, mas o primeiro, já que os pagãos se converteriam ao cristianismo, não faria sentido. Isto porque, na Nova Aliança não existe distinção entre aqueles que vieram do judaísmo e aqueles que vieram do paganismo. Conclusão: em Ex 4,22-23 o termo primogênito significa unigênito. Logo, quando a Bíblia se refere a filho primogênito pode estar se referindo ao primeiro de outros filhos ou a um filho único.
Outra evidência no sentido da conclusão anterior é o fato de Bíblia se referir a Cristo como sendo tanto unigênito quanto primogênito de Deus: unigênito em Jo 3,16, Jo 1,18; primogênito em Hb 1,6; Rm 8,29. Assim, Cristo é unigênito, porque único que é Pessoa da Trindade, filho de Deus gerado pelo Espírito Santo; primogênito, porque nós também somos chamados a sermos filhos de Deus pela filiação adotiva, por meio da graça.
O mesmo se dá em relação a Maria. Quando o evangelista afirma que Jesus é o primogênito de Nossa Senhora o faz no sentido de filho único. Ora, se Maria tivesse outros filhos, Jesus a teria deixado aos cuidados deles, e não de São João, como o fez, que nem parente era (Jo 19, 25-27). Por outro lado, Jesus é o primogênito, no sentido de primeiro, já que todos nós cristãos somos chamados a sermos filhos de Maria. O raciocínio é simples: Jesus é a cabeça, e nós, cristãos, somos o corpo, a Igreja (Cl 1,18); Maria é mãe de Jesus, perfeitamente homem e Deus, cabeça da Igreja; sendo mãe da cabeça, também é mãe do corpo, a Igreja; sendo mãe da Igreja, é mãe de todos aqueles que formam este corpo: nós, cristãos.