Muitas controvérsias surgiram no meio cristão, tanto católico quanto protestante, com a afirmação
feita pelo Papa Francisco numa homilia em Nova Iorque, no último dia 24 de
Setembro, de que a vida de Cristo, aos olhos humanos, teria fracassado na
cruz. Mas, afinal, o que ele quis dizer com isso? Ele falou algo errado?
Não o papa não falou
nada de errado; reafirmou apenas o que está na Bíblia. Explicarei.
No mesmo sentido utilizado
por Francisco, Deuteronômio, 21, 22-23, refere-se àquele que morre
pregado na madeira como maldito de Deus : “Se alguém houver pecado, passível da
pena de morte, e tiver sido morto, e o pendurares num madeiro, o seu cadáver
não permanecerá no madeiro durante a noite, mas, certamente, o enterrarás no
mesmo dia; porquanto o que for pendurado no madeiro é maldito de Deus”. Cristo morreu pregado na madeira.
Seria Ele maldito de Deus?
É também neste padrão
que o profeta Isaías (Is 43, 3) se refere ao Messias enquanto escória da
humanidade: “Era desprezado, era a escória da humanidade, homem das dores,
experimentado nos sofrimentos; como aqueles, diante dos quais se cobre o rosto,
era amaldiçoado e não fazíamos caso dele.” Seria Cristo a escória da
humanidade?
São Paulo, o maior
evangelizador da história do cristianismo, chama o evangelho de loucura (1 Cor
1, 21-23): “Já que o mundo, com a sua sabedoria, não reconheceu a Deus na sabedoria
divina, aprouve a Deus salvar os que creem pela loucura de sua mensagem. Os
judeus pedem milagres, os gregos reclamam a sabedoria; mas nós pregamos Cristo crucificado,
escândalo para os judeus e loucura para os pagãos." Seria Cristo louco por
pregar o evangelho?
Ainda São Paulo diz que
Cristo se fez maldito (seria Cristo maldito?): Gálatas 3.13 – “Cristo nos
resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar ”.
É claro que Cristo não é
maldito, louco ou escória da humanidade, assim como Ele também não fracassou.
Muito pelo contrário. Ocorre, e isto deve estar claro, que os trechos citados,
assim como a homilia do Papa Francisco, referem-se à compreensão tida por
aqueles que não compreendem, ou seja, pelos que não creem. Para os que não
creem, Cristo é louco, pois dizia ser Deus, sem sê-lo; para os que não creem,
como Cristo não ressuscitou, ele fracassou na cruz.
É neste sentido que o
Papa adverte, justamente, para que, diante das provações, diante das
dificuldades ou diante da perseguição que sofremos devido à fé, não nos
preocupemos em fracassar na perspectiva do mundo, ou seja, na perspectiva dos
que não creem.
Também assim ensina Jesus a São Pedro, quando este estava inconformado porque não
conseguia aceitar os sofrimentos pelos quais seu Senhor teria que passar,
conforme mostra o Evangelho segundo Matheus, 16, 22-23 : “E Pedro, tomando-o de parte, começou a repreendê-lo,
dizendo: Senhor, tem compaixão de ti; de modo nenhum te acontecerá isso. Ele, porém, voltando-se, disse a
Pedro: Para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo; porque não
compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens.
Assim é que, para seguir verdadeiramente
Cristo, fracassaremos ao olhar do mundo, como Cristo fracassou, ao olhar dos
judeus. Para seguir verdadeiramente Cristo, temos que carregar a cruz, esperançosos de que, no Juízo,
possamos contemplar a plenitude da sua Glória.
Esta
é a beleza e loucura do evangelho a qual o Papa quis retratar, onde perde-se
para ganhar (Marcos 8, 36), onde o mais fraco é o mais forte (2 Coríntios 13:4;
2 Coríntios 12, 09-10),onde humanamente fracassamos, para que, espiritualmente,
ganhemos o direito de sermos chamados filhos de Deus.
Louvado seja Nosso
Senhor Jesus Cristo que, fracassando para o mundo por nós, em verdade, o
venceu!