Por Silvério Filho
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Hugo e Monsenhor Expedito |
Há 7 dias falecia Hugo Tavares Dutra,
grande amigo do meu pai, Silvério Alves, e que com ele compartilhava uma
admiração singular por aquele que mais fez por essa cidade: Monsenhor Expedito
Sobral de Medeiros.
Expeditiano, como se autodenominava, o poeta Hugo, católico
leigo, muito se preocupava com as causas sociais. Adequava-se às palavras de
São João XXIII, que dizia que a luta social da Igreja fazia parte da própria
concepção cristã de vida [1].
Era reconhecido no círculo de amigos, tanto na época do
padre Expedito quanto após a sua partida, como aquele que proclamava uma “fúria
santa” (nas palavras do jornalista Paulo Sérgio), uma indignação contundente em
face das injustiças sociais. Se tal comportamento às vezes era interpretado
pelos amigos, de modo bem-humorado, como ranzinza, nunca deixou de se reconhecer a importância da sua energia em momentos cruciais. Era a
personificação, de modo enérgico, do método consagrado por São João XXIII: “Ver,
Julgar e Agir”. [2]
No campo da cultura popular, dava-se para aplicar a Hugo os dizeres de Zé Preto
direcionados ao Pe. Expedito, relatados no livro “Pelos Caminhos do Potengi”: “A gente compreende tudo o que o senhor
ensina, porque o senhor fala na língua da gente” [3]. Era assim, falando de modo simples, que ele seguia na esteira do padre, orientando o povo sobre seus direitos, cidadania, política (e não politicagem) e cultura, de
preferência em versos de cordel postos em música.
Foi com esta conduta que cultivou até seus últimos momentos a memória e os
ensinamentos do “Profeta das Águas”, levando, em suas atitudes, a exaltação trazida
na Carta Encíclica Mater et Magistra (que foi muitíssimo bem-recebida pelo
Monsenhor): a de que cabia ao católico leigo a luta social em defesa dos menos
favorecidos, à luz do Evangelho de Cristo.
Este comportamento ficou claro no depoimento dado pelo prefeito Naldinho, na
Missa de Corpo Presente, relatando que Hugo, já nos últimos dias, pediu que, se
ele não pudesse continuar com a luta, que continuassem por ele.
Cumpriu-se o primeiro aspecto do seu pedido. No dia 01 de julho, partiu, acabou
sua guerra. Foi-se como expeditiano que era, após lutar o bom combate, com a
figura do padre estampada na camiseta que usava, com a conhecida boina e o característico
colete.
Assim como o Monsenhor dizia que partiria, conforme relatado em “Pelos Caminhos do
Potengi”, partiu Hugo, “seu amigo e seu irmão”: maneiro e sem nenhuma
preocupação material.[4]
Para nós, que aqui ficamos, em especial os católicos, resta cumprirmos o
segundo aspecto do pedido feito por ele ao prefeito Naldinho: o de que continuássemos
a sua luta. Esta, agora, é nossa luta.
Que seu legado reste firme em nossas
lembranças.
[1] Mater et Magistra, 1961, parágrafo 221.
[2]Mater et Magistra, 1961, parágrafo 235
[3] Pelos Caminhos do
Potengi, página 41.
[4] Pelos Caminhos do Potengi, Página 52.