Por Silvério Filho
Como no dia de hoje meu pai se despede oficialmente da Direção da EE Maurício Freire, resolvi repostar um texto que havia escrito em sua homenagem, por ocasião do término do último ano de sua gestão à frente daquela escola. Segue, abaixo, o texto.
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Professor Silvério Alves com alunos do Maurício Freire: quatro anos de dedicação |
Há pouco mais de quatro anos, foi eleita a nova (e atual) direção da Escola Estadual Maurício Freire, de São Paulo do Potengi, a qual era formada pelos professores Silvério Alves (diretor) e Maria Neci (vice-diretora). Tal chapa, respaldada por uma experiência inquestionável de ambos componentes, venceu por uma boa margem de votos, gerando não só um reconhecimento quanto à sua capacidade, como também, e consequentemente,a esperança de uma boa gestão.
Lembro-me que, àquela época, duas propostas eram tidas como carros-chefe desta chapa, a saber: a maior valorização do esporte e um maior incentivo para o vestibular/ENEM. No que diz respeito à primeira, recordamos que quando a gestão Silvério/Neci assumiu o Maurício Freire, a escola vinha de três frustrações seguidas na aquisição do título de Campeão dos Campeões dos Jogos Estudantis. Entretanto, já no primeiro ano da nova gestão, em consonância com o trabalho do professor Expedito, a escola logrou êxito na conquista daquele título tão almejado, fato este que continuou a se repetir pelos três anos seguintes. Deste modo, nos quatro anos da gestão, em que foram disputadas quatro vezes o título, quatro foram as vitórias.
Já no que concerne ao incentivo ao vestibular/ENEM, podemos dizer, seguramente, que nunca tantos alunos tinham prestado os exames como nesses quatro anos, o que, sem sombra de dúvidas, é um fato de extrema importância e faz dispensar maiores comentários sobre o assunto.
Além destas conquistas, posso falar também de um mérito que, de certo modo, independe da aquisição ou não de conquistas: o amor pela profissão e, como consequência, o esforço empregado. Tal mérito, penso, recai sobre ambos os gestores, porém me deterei a uma análise mais específica da pessoa do senhor Silvério Alves, com quem tenho mais contato.
Sendo assim, vale dizer, não foram poucas as vezes em que meu pai chegou "esgotado", física e mentalmente, do trabalho como diretor. Por vezes, o estresse e a sobrecarga da função faziam-no voltar à casa estressado, prejudicando-o, inclusive, na sua gastrite, que nestes últimos meses o atingiu ainda mais seriamente. Tais dificuldades nos fazem perceber que a gratificação financeira em si, advinda do cargo, não seria motivo suficiente para mantê-lo lá. Havia algo mais.
Este "algo mais" era facilmente perceptível: havia amor. Amor pela profissão, amor pela escola, amor pelos alunos, principalmente. O sorriso do meu pai ao chegar em casa, mostrando-me uma foto de uma criança, aluna da escola, lendo um livro no pátio da instituição, dificilmente sairá da minha lembrança. Ou as vezes em que conversava sobre as dificuldades que alguns alunos passavam em casa, mas que mesmo assim ainda iam à escola e que, por isso, demandavam uma atenção especial, para que não desviassem do caminho dos estudos. Ou ainda as vezes em que passávamos por um aluno na rua e ele me dizia: "Esse daí da muito trabalho, mas é um menino muito bom. Só precisa do incentivo certo".
Tenho certeza que os alunos e funcionários da escola também percebem esse amor do professor Silvério Alves pelo ofício que prestou durante esses quatro anos. Diversas foram as ocasiões em que presenciei demonstração de carinho e, acima de tudo, respeito por parte dos estudantes à figura do meu velho.
Por estes e por tantos outros motivos, penso que, no final deste ano, quando acabar sua gestão, meu pai poderá olhar para trás e, como fez São Paulo na Segunda Carta a Timóteo (4;7), dizer: "Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei minha fé".