Por Silvério Filho
“Entre o neto que foste e o avô
que serás, que pai terás sido”, já dizia José Saramago ao exaltar a importância
da paternidade. É o pai, juntamente com a mãe, que apresenta o mundo ao filho.
São eles que, no início da vida, são os olhos do filho, são a sua compreensão
do horizonte, visto que a criança ainda não pode fazê-lo por si. É a partir
dessa visão dada pelos pais que começa a construção do caráter daquele ser que
deles é oriundo. A maneira como é desenvolvida essa relação é, assim, de suma
importância no progredir da construção familiar.
Eu, particularmente, agradeço
todos os dias os pais que Deus me deu, a ponto de parafrasear o Gonzagão, ao
dizer: “Se eu nascesse de novo e pudesse escolher, outra vida eu não
queria ter”. Um dos motivos para essa minha gratidão é justamente os olhos que
meus pais me deram desde pequeno. A compreensão da vida que, paulatinamente,
eles me ajudaram a ter.
Não prescindindo da importância
da minha mãe (que amo tanto) na minha vida, venho hoje restringir um pouco mais
minha mensagem ao senhor Silvério Alves, editor deste Blog e meu pai.
Desde a época de criança, meu
pai, com suas atitudes e considerações, foi moldando minha personalidade,
sempre a partir de uma perspectiva humana e cristã. Desde novo me ensinou a
chamar os mais velhos de senhor(a), pedir a benção todos os dias ao acordar e
ao dormir e a tratar as pessoas bem. Para essa última consideração, ele sempre
utilizava uma máxima atribuída ao meu tio-bisavô Manoel Raimundo: “Tratar
bem não traz prejuízo”. De fato, não traz.
Pensando bem, diversas foram as
citações ditas por ele no meu processo de educação. Na lista estavam, dentre
outros: Jesus, Drummond, Fernando Pessoa, meu avô Pedro, meu bisavô Cirilo etc.
Mas talvez o mais citado tenha sido o eminente Monsenhor Expedito. Tantas foram
as vezes que ele recorreu ao Monsenhor, que mesmo sem ter convivido com este
diretamente, me sinto um dos seus aprendizes.
Outro fato interessante é que meu
pai nunca precisou bater em mim para que eu o obedecesse. Salvo uma ocasião,
que levei uma palmada, mas a bem da verdade eu mereci (rsrs). Mesmo sem a
utilização da coerção física, há um campo em torno da nossa relação que eu não
vejo como posso ultrapassar: o do respeito.
Respeito hoje ainda mais
retificado pelo fato de eu entender o quão importante foi o incentivo que ele
me deu desde novo à leitura. Costumava dizer: “Não tenho dinheiro e
provavelmente morrerei sem tê-lo, mas deixarei para você a educação”. Tanto foi
a insistência que eu tomei gosto pela coisa e hoje estudo por prazer. Vale
dizer, hoje eu é que o incentivo a continuar o processo de leitura e aprendizado
(inclusive com citações, rsrs).
Eu poderia me estender aqui
eternamente, mas já enfadei demais os nossos leitores. Para terminar, queria
dizer que o que eu sou e o que eu virei a ser terá contribuição essencial do
meu velho e toda a sua gama de ensinamentos, de modo que, quando tiver um
filho, estarei satisfeito em ser para ele metade do que o velho Silvério é para
mim. De fato, tenho muito orgulho do meu pai. Parabéns!